Foto: Acervo do Centro
Vianei
O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) é uma das organizações envolvidas em ações que buscam garantir a preservação dos remanescentes da Floresta de Araucárias. Entre as medidas que visam o equilíbrio desse ecossistema está a proibição da colheita, do transporte e da comercialização do pinhão antes do dia primeiro de abril. O “período de defeso”, como é chamado popularmente, foi estabelecido pela Lei Estadual 15.457/2011. O objetivo da restrição é garantir o amadurecimento das sementes do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia) e, com isso, a reprodução da espécie, a alimentação de animais silvestres e os benefícios socioeconômicos do extrativismo do pinhão.
Durante o processo de maturação, a pinha se abre e
expõe as sementes, o que faz com que parte delas caia no chão e beneficie um
grande número de animais que se alimentam do pinhão. “Isso é fundamental para
muitas espécies silvestres, especialmente porque no inverno a oferta de
alimento nos remanescentes da Floresta de Araucárias diminui”, explica a
bióloga do IMA e coordenadora do Plano de Ação Territorial para Conservação de
Espécies Ameaçadas de Extinção do Planalto Sul (PAT Planalto Sul), Luthiana
Carbonell.
A maturação das sementes de araucária, espécie
ameaçada de extinção, é essencial para a sua dispersão. Algumas aves, como, por
exemplo, a gralha-azul, e roedores, como a cutia, escondem as sementes com o
objetivo de estocar alimento. Parte dessas sementes são esquecidas e dão origem
a novas árvores. A restrição sobre o início da coleta do pinhão, portanto,
busca garantir que as pinhas não sejam colhidas verdes, o que impede que esse
processo natural ocorra.
A semente, inclusive, atrai visitantes periódicos
para a Planalto Serrano Catarinense. Todos os anos, durante o período de
maturação do pinhão, exemplares do papagaio-charão (Amazona pretrei) migram do
Rio Grande do Sul e movimentam os remanescentes da Floresta de Araucárias, em
Santa Catarina, com suas revoadas características. A espécie está listada como
em risco de extinção na natureza.
Economia e segurança alimentar
A Floresta de Araucárias, tecnicamente denominada
Floresta Ombrófila Mista (FOM), é uma formação florestal do bioma Mata
Atlântica que ocorre nos estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul
e, de forma esparsa, em algumas regiões de São Paulo e Minas Gerais. Um
diagnóstico da cadeia produtiva do pinhão, realizado pelos técnicos envolvidos
no PAT Planalto Sul aponta que, além da importância ambiental, o pinhão tem
grande relevância econômica e para a segurança alimentar de famílias que
residem na região.
De acordo com o diagnóstico, existem cerca de 12
mil famílias que colhem pinhão no Planalto Serrano Catarinense. Para 30% delas,
essa é uma das principais fontes de renda. Essas famílias são responsáveis
por aproximadamente 75% da produção de pinhão de Santa Catarina. Muitas
delas criaram Sistemas Agroflorestais (SAF) onde as araucárias dividem espaço
com outras espécies nativas (por exemplo, uvaia, araçá, goiaba-serrana,
erva-mate, bracatinga, canelas). Nesses sistemas, a comercialização do pinhão
compõe cerca de 50% da renda total obtida.
Devido à importância econômica do extrativismo do
pinhão e da consonância da atividade com a conservação da biodiversidade, em
2022, foi promovida pelo PAT Planalto Sul e executada pelo Centro Vianei a
elaboração do Plano de Ação para Potencialização da Cadeia Produtiva do Pinhão,
o qual contou com contribuições de diversas entidades. O documento pode ser
consultado no link: (https://www.ima.sc.gov.br/index.php/biodiversidade/planos-de-acao/pat-planalto-sul).
Segundo Luthiana, a atividade de extrativismo do pinhão necessita de um olhar atento do poder público e da sociedade, pois os frutos desse trabalho beneficiam as comunidades envolvidas e, também, a conservação de um ecossistema ameaçado. “Além de deixar um legado para as gerações futuras”, diz a bióloga.