
Foto: Divulgação/MPSC
As vozes de cidadãos catarinenses abriram o discurso da nova Procuradora-Geral de Justiça, Vanessa Wendhausen Cavallazzi, que tomou posse nesta sexta-feira (11/04), em solenidade na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), em Florianópolis. Vanessa é a primeira mulher da Instituição a conduzir o Ministério Público de Santa Catarina. Um vídeo com depoimentos sobre o que mulheres, homens e crianças esperam da Instituição deu o tom de como será o MP catarinense nos próximos dois anos.
"Quando eu subo a esse púlpito, eu não estou sozinha. Estão aqui comigo as mulheres e os homens do Ministério Público que ao longo desses últimos 36 anos têm dedicado suas vidas à missão de fazer a Constituição ser de verdade, estão aqui comigo a sociedade catarinense do qual somos o braço forte e todos os agentes públicos imbuídos do mesmo propósito. Somos muitos e muitas e, sobretudo, somos fortes", ressaltou.
Em seu discurso, Vanessa discorreu,
ainda, sobre as virtudes do Estado catarinense, como as vocações econômicas bem
definidas e diversificadas, a alta taxa de alfabetização, 95%, e os baixos
índices de mortalidade infantil e de pessoas em situação de extrema pobreza,
além dos bons números de segurança pública. Isso não significa dizer, afirmou
ela, que aqui não haja o "por fazer".
"Ao contrário. O enfrentamento do
fenômeno das organizações criminosas precisa estar na ordem do dia das
Instituições Públicas. E o combate a elas não pode se dar de maneira insulada e
estanque, operando cada órgão público no seu quadrado de atribuições. É
necessário crescer em articulações com o Poder Judiciário e com o Poder
Executivo no sentido de especializar funções, estabelecer novos fluxos de troca
de informações, conceber formas colaborativas de atuação que, a partir das
potencialidades de cada estrutura, turbinem as atividades do sistema de
segurança pública e do sistema de Justiça", assegurou.
Vanessa apontou também um outro fenômeno social que terá atenção do MPSC nos próximos dois anos, o feminicídio. Com números em mãos, a nova PGJ disse que apenas no ano de 2024, em Santa Catarina, 51 mulheres foram vítimas de feminicídio, e mais de 96 mil ocorrências de violência doméstica foram registradas. "É dizer: uma catarinense teve sua dignidade violada a cada cinco minutos no último ano. Esse retrato assombroso, que tem no feminicídio sua marca mais visível, interpela a pronta atuação do Ministério Público em favor das vítimas diretas e indiretas desses crimes odiosos e exige mais do que o registro estatístico: invoca compreensão do fenômeno, ação preventiva e responsividade", alertou.
Para enfrentar o problema, a nova PGJ anunciou, durante o seu discurso de posse, que irá construir o Mapa do Feminicídio em Santa Catarina, com uma radiografia precisa e humanizada dessa realidade que visa a responder analiticamente o seguinte: quem são essas mulheres vitimadas? Que circunstâncias impediram o rompimento do ciclo de violência? Em quais contextos os assassinatos ocorreram? Havia medidas protetivas em vigor? Quem são os órfãos dos feminicídios e como organizar mecanismos de atenuação das vulnerabilidades dessas crianças e adolescentes?
"Ao dar corpo e rosto a esses
números, construiremos um arcabouço inédito de informações que servirá de guia
para ações de prevenção, sensibilização e formulação de políticas públicas
eficazes. Sabemos, porém, que esse enfrentamento exige mais do que iniciativas
isoladas - exige diálogo, articulação e compromisso interinstitucional",
complementou.
O combate à corrupção será uma outra
frente de atuação da nova PGJ. Segundo ela, essa é uma das missões constitucionais
do Ministério Público que corta gerações e continuará figurando como prioridade
de todas as gestões da Instituição enquanto o fenômeno não estiver debelado.
"As últimas modificações legislativas da Lei de Improbidade Administrativa
mudaram profundamente as feições do combate à corrupção e desafiaram o
Ministério Público a se adaptar em ordem de continuar avançando. Essa é a hora
de buscar novas tecnologias que aparelhem a atividade, tornando-a ainda mais
eficiente", anunciou.
Fomentar a democracia interna, com espaços de deliberação e
canais de troca de experiências profissionais, e estreitar o diálogo com os
Tribunais Superiores - Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de
Justiça (STJ) - são medidas que também fazem parte do plano de ação da nova
PGJ. "Apesar de conhecerem a atividade processual desenvolvida pela
Instituição, minha experiência em Brasília revelou que tanto o Supremo Tribunal
Federal quanto o Superior Tribunal de Justiça não conseguem acessar a maior
parte do que Promotoras e Promotores de Justiça e Procuradores e Procuradoras
de Justiça de fato realizam no mundo da vida", disse Vanessa.
Ao final do discurso, a nova PGJ
agradeceu a todos que com ela estiveram nesta caminhada até aqui, ao Governador
do Estado, Jorginho Mello, pela sensibilidade e coragem da escolha - é o
governador do Estado quem nomeia o PGJ a partir de uma lista tríplice formada
pela Instituição - e falou sobre o significado de ser a primeira mulher a
ocupar o cargo de PGJ do MPSC. "O dia de hoje é um signo a indicar a
nossas filhas, sobrinhas e netas que essa já não é mais uma fronteira. A
bandeira está fincada e agora é trabalhar para que as estruturas que dificultam
o nosso caminhar não nos impeçam de povoar esses lugares."
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC.